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Hoje Somos Muitas Árvores (2021)
Curador: Abiniel João Nascimento
Expografia: Fábio Rodrigues, Caleb Costa

Entre o nevoeiro formado bem de manhãzinha, enquanto os primeiros raios de luz iluminavam o sereno nas folhas do coqueiro, ouvi o universo acordando. Os primeiros pios do bem-te-vi no pé de manga; as vassouras de mato ciscando o terreiro, compunham, junto aos zunidos das abelhas, uma canção recorrente desta terra. Despertava de mais uma noite onde os encantados faziam festa em meus sonhos, como na madrugada a qual acordei junto com minha avó para saudar îasy: olhávamos para cima como se olhássemos para dentro, vendo a enorme bola vermelha no céu daquele ano. 

Ainda embriagado pelas memórias do sonho, ao sentir o cheiro de fumaça e café, lembrei das idas e vindas da casa de farinha. Era no tempo da colheita de mandioca quando as histórias se reviravam, como se ao mexer com a terra estivéssemos mexendo em nossas fotografias. Neste tempo quando minha mãe contava as histórias dos mais velhos encantados, transformados em raízes que  sustentam nossa terra. Às vezes me perguntava: por qual motivo contamos nossas histórias como se a raiz do pé de manga frutificasse galho de tamarindo?

Mas o tempo passou, passou e eu andei, andei, andei. Nesses caminhos, encontrei outras pessoas de longe, contando histórias mutiladas que me soavam familiares. De tão semelhantes, as narrativas nos faziam parentes, nascentes da mesma terra.  Ora, se violentando nossos galhos decretaram nossa morte, não contaram com nosso crescimento solo adentro sob a luz de Kûarasy. Memórias, histórias e ciências permaneceram em nossos corpos, mesmo em segredo. Subterrâneas em nossa pele-pedra, fogo e água.

A exposição “Hoje somos muitas árvores”, assim denominada em referência a uma poesia da cacica Maria D’ajuda do povo Pataxó de Cumuruxatiba, aponta para tempos denotadores de permanência, de renascimento e de luta - marcadores das identidades indígenas na terra denominada Nordeste.

Guiades pelas tradições e contradições de nossas reminiscências narrativas, quinze indígenas compõem uma contra-história a partir de suas expressões criativas, construindo barricadas de outros tempos na cronologia arquitetada para nosso fim. Trabalhos construídos em diversas materialidades, buscam ampliar o sentido da Arte Indígena Contemporânea ao deslocar da arte o único sentido da criação.

Renata Felinto por Renata Felinto (2021)
Artista: Renata Felinto

Curador: Fábio Rodrigues
Assistente de Curadoria: Caleb Costa

Expografia: Fábio Rodrigues, Caleb Costa

Renata Felinto é artista visual nascida em São Paulo em 1978. A partir de 2016 passou a residir e trabalhar na cidade do Crato – Ceará, logo após ingressar no Departamento de Artes Visuais do Centro de Artes da Universidade Regional do Cariri – URCA. No Instituto de Artes da UNESP (SP) cursou o Bacharelado (2001), o Mestrado (2004) e o Doutorado (2016) em Artes Visuais. Especializou-se em Curadoria e Educação em Museus de Arte Contemporânea pela Universidade de São Paulo – USP em 2010.

 

Como artista/professora/pesquisadora do Centro de Artes da URCA tem se dedicado ao setor de Teoria da Arte no Curso de Licenciatura em Artes Visuais. É líder do grupo de pesquisa NZINGA – Novos Ziriguiduns (Inter)Nacionais Gerados na Arte, coordena o Projeto de Pesquisa YABARTE e o Projeto de Extensão de mesmo nome, ambos projetos vinculados ao Grupo de Pesquisa NZINGA. Idealizou e coordena juntamente com o prof. Fábio Rodrigues o Seminário Internacional Arte, Gênero, Ensino – SIAGE.

 

Ao longo dos últimos 20 anos a prática artística de Renata Felinto articula e relaciona arte, identidade e gênero pautando “a questão da identidade negra feminina, deslocamentos e conexões como a globalização em diálogo com a história ancestral”. (PORTFÓLIO, 2020).

 

Desenhos, pinturas, fotografias, performances e happening são as linguagens que se utiliza para tensionar e questionar construções estéticas e culturais ao encarnar por meio de sua autoimagem mulheres negras de diferentes contextos culturais. Desde que fixou residência no Cariri cearense tem incorporado e mantido sua narrativa sobre o lugar das mulheres negras no Brasil e na região criando imagens nas quais se coloca como a Beata Maria de Araújo, Maria Caboré ou a Mestra Maria Margarida.

A exposição Renata Felinto por Renata Felinto é ao mesmo tempo uma retrospectiva da trajetória dessa jovem artista como um retrato dessa autoimagem que nos leva a estados de reflexão sobre o racismo estrutural de nosso país e região do Cariri, sobre vidas de mulheres negras e sobre a elaboração de estratégias estético/artísticas para que possamos desaprender e aprender com as práticas artísticas contemporâneas (CANTON, 2009) sobre nós mesmos.

Exposição virtual: Maria Macêdo no tempo das plantas (2020)

Artista: Maria Macêdo

Curador: Fábio Rodrigues
Assistente de Curadoria: Caleb Costa

Expografia: Miguel Vassali, Caleb Costa, Fábio Rodrigues

Maria Macêdo, é natural de Quitaiús-Ceará (1996). Com sua família migrou para a cidade de Juazeiro do Norte-CE, onde cresceu, estudou e se graduou no curso de Licenciatura em Artes Visuais pelo Centro de Artes da Universidade Regional do Cariri - URCA.

 

Sua prática artística tem raízes no seu corpo-terra-mulher-negra-nordestina e a partir desse corpo-movimento se propõe a traçar caminhos pelas encruzilhadas nas quais encontra possibilidades para outras escritas historiográficas emanadas por afetividades e memórias pessoais e coletivas.

 

Como um corpo-terra evoca a força e o poder dos saberes ancestrais e das tradições da vida no campo, são experiencialidades “fertilizadoras de imagens”. A prática artística de Macêdo é uma extensão de si, desse corpo-terra-corpo, um micropoder que vai fertilizando a terra por meio de uma sensibilidade poética de quem entende sua presença no mundo e seu papel na história.

 

Em seu processo criativo, imagens-imagens/palavras-palavras/imagens, assumem centralidade como estratégias de um projeto de luta-cura carregado de uma força ancestral e de uma generosidade de quem cresceu com as plantas, de um corpo-protegido pela espada-de-são jorge. Maria Macêdo é tálama, substantivo feminino, um receptáculo com a função de proteger e assegurar a fertilização e crescimento do corpo-planta-corpo. Para proteger é necessário denunciar o que impede corpos-corpas de coexistirem, de cohabitarem as diferentes e diversas geografias, portanto, combater o racismo, a lgbtfobia, o feminicídio está imbricado na prática artística que assume uma dimensão pedagógica aprendida no tempo das plantas.

Exposição virtual: Emanoel Nascimento (2020)

Artista: Emanoel Nascimento

Curador: Fábio Rodrigues
Assistente de Curadoria: Caleb Costa

Expografia: Miguel Vassali, Caleb Costa, Fábio Rodrigues